quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Cinema - Cada um com seu estilo





Você já parou pra pensar que nossas vidas são compostas de situações e que cada uma delas, por menor que seja, desencadeia a nossa história?

Um sim dito na hora certa, ou na hora errada pode transformar toda uma vivencia, ou o simples ato de viver ou não uma situação pode te salvar ou te destruir. E se a vida fosse um filme? Essas situações seriam como cenas, guiadas á um fim maior, cada SIM ou NÃO seria estrategicamente colocado para que o final fosse grandioso ou até mesmo frustrante dependendo do do diretor ou autor.

Fato é, conforme a historia do mundo foi se desenvolvendo, o cinema foi junto, e os diretores e autores se destacando. No principio o autor do filme era diferente do roteirista e mais ainda do diretor. O autor criava a história, o roteirista a transformava em script e o diretor garantia que tudo ficasse perfeito e atrativo ao público. Porém, coma Nouvelle Vague essas funções foram se misturando, o autor era também roteirista e diretor, tudo para que a obra fosse fiel a idéia original e garantindo que a protagonista fosse a musa suprema do filme, musa essa que geralmente era amante desse grande feitor do filme.

Após a Nouvelle Vague, essa mania de misturar as funções foi se dissipando e na atualidade depende de cada filme, alguns diretores aclamados por serem fieis ao seu estilo costumam manter essa forma de trabalhar, fazendo não apenas o roteiro como também dirigindo o Longa. Desta forma, se obtém obras que são como peças de um mesmo desfile. É fácil perceber quando um filme pertence a um determinado diretor, e estes criam marcas que são encontradas em todas as suas produções.

Para deixar claro através de explicações, imaginemos a seguinte situação, digamos que você acorda de um acidente de carro terrível e está num hospital, o seu médico entra e começa a conversar com você, se a vida fosse um filme, o curso dos acontecimentos dependeria do diretor, por exemplo:

Almodovar: você puxaria conversa com o médico, mas ele estaria ocupado demais pra falar com você, até que ele nota uma certa beleza diferente em você e resolve perguntar coisas sobre sua vida, mas o que você não sabe, é que o médico se veste de mulher todos os dias a noite em sua casa e fica se imaginando mulher, mas você é tão linda que talvez ele pudesse ser como você, ou ter você, dependendo da noite. Quem sabe ele até não te ajuda a fugir do hospital?

Tarantino: você acorda e está sozinho, o médico entra na sala e não puxa conversa, apenas olha seu soro, você tenta se sentar na cama quando o médico te da as costas, avista uma faca em sua calça jeans na poltrona ao lado, quando o médico vira, você observa que ele é chinês! Então percebe uma roupa preta por de baixo do jaleco, vocês se olham de forma assustadora enquanto os olhares se atravessam uma música tirada de algum filme dos anos 40 invade a sala, tecladas agudas de um piano, um duelo está por vir, quando se ouve apenas o afiado da espada do médico se levantando, você corre pegar sua faca e uma luta sangrenta se inicia! Letras de gibi aparecem na tela “o duelo da vingança”.

Woody Allen: você acorda e se depara com um médico de meia idade, se lembra que o acidente tinha sido uma tentativa frustrada de suicídio e pergunta pro médico porque diabos não conseguiu morrer, ele diz que não é tão fácil assim, e que se fosse metade dos problemas dele já haviam sido resolvidos, você não sabe se isso é porque ele também tenta, ou simplesmente porque há muitos casos de suicídio mal sucedidos do no hospital, mas não se atreve a perguntar. O médico diz que já já você sairá do hospital e voltará a vida normal. Você ri pergunta se ele tem alguma sugestão de vida pra te dar, ele diz que é divorciado e recebe mal, se você quiser tomar um café com ele um dia desses, tudo bem. Se não, pede pra que você se lembre de soltar o cinto da próxima vez. Fim de cena.

bom, como eu não sou nenhum crítico expert, não vou citar todos os diretos com estilo próprio do mundo, mas vale dizer que algumas marcas são mundialmente conhecidas, assim como se fosse uma cena do Ingmar Bergman seriamos perseguidos com um diálogo de dez minutos sobre as razões dos dois estarem ali e da existência deles e de como talvez, suas vidas estivessem fadadas a se encontrar, ou não. Se a cena fosse de James Cameron, teríamos um belo de um blockbuster prestes a nos encontrar e provavelmente algum herói invadiria o hospital e te transformaria em mocinha ou em um companheiro de aventuras, se fosse de Spilberg teríamos algo provavelmente mágico e grandioso a acontecer, como se você estivesse no hospital porque tentaram te matar afinal você é herdeiro de uma missão multi milionária de achar um tesouro que está em uma mapa de símbolos que seu avô te de deu quando morreu.

Lars Von Trier, teria noa abençoado com uma grande cena de 10 minutos de procedimentos médicos comuns, como exames e injeções enquanto nos aventuraríamos pelos pensamentos inócuos da personagem deitada na cama.

Já se o filme fosse de David Lynch provavelmente o médico teria uma cabeça de boi e você descobria que não está num hospital, e sim num abatedouro humano e deveria engordar 100 kilos nos próximos 10 dias para servir de jantar no casamento da filha bovina do médico. Fez sentido? Quem liga? Lynch é pra sentir, não entender.

O propósito de todas essas situalções mudarem tanto de diretor pra diretor, é justamente que a maioria desses vem criando seus próprios roteiros e adaptações, desta maneira se mantendo fiel à um estilo próprio e criando uma legião de fãs por todo mundo.

O motivo de Bastardos Inglórios ter sido tão criticado em Canne foi justamente o fato de ser um amontoado de coisas que o Tarantino gosta montado em um filme “fácil de executar” sem se preocupar se o publico vai gostar. Mas foi justamente por ser a cara do Tarantino que o público amou. Um fracasso para os críticos, mais um objeto de desejo pros fãs.

A dica para os viciados em cinema, é conhecer vários filmes de um mesmo diretor, e pode se tornar uma missão divertida identificar a coerência entre eles, as marcas da personalidade de cada construtor das melhores obras do mundo cinematográfico. De Pulp Fiction à Cidade dos sonhos há um mundo de opções encantadoras dos melhores diretores. É possível traçar uma seqüência de filmes para se tornar um expert em cinema e conseguir encontrar essas marcas dos diretores, mas isso é um assunto pra outro post.

Nayara Luchetti

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